quarta-feira, agosto 27, 2014

Mário Sérgio celebra 25 anos da Quinta das Bágeiras

Mário Sérgio (Alves Nuno) nasceu na Bairrada e numa família com vinhas. Lembro-me quando o visitei pela primeira vez, contou-me que houve camponesas a queixarem-se ao pároco por causa da monda de cachos. Desperdício de alimento é pecado!
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Este bairradino assinalou 25 anos como vitivinicultor e chamou, à aldeia da Fogueira, amigos, familiares e jornalistas. Lá a meio do convívio rasgou um sorriso e deu-me um abraço:
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– Epá! Já nos conhecemos há uma data de anos.
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Pois já! Fui em reportagem pelo programa «Da Terra Ao Mar» (RTP 2 – domingo às 11h00) – era muito mal pago, mas foram os anos profissionais que mais gostei de viver. Dez anos! O texto da reportagem data de 13 de Outubro de 2004, pelo que a visita deve ter acontecido em finais de Setembro ou no início do mês seguinte. Não me lembro se estava em vindimas.
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O vinho é uma complexa criação humana, com várias nuances e significados, seja directos, seja indirectos:
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– Alimento de alimentar, alimento de comida, objecto sagrado, droga social (álcool) do Ocidente, com ele se brinda ao amor, se afogam desamores, se celebra o Natal, o Ano Novo, a Páscoa, os aniversários... A grosso modo, pois assume ainda mais contornos e funções...
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A Bairrada é uma região especial. O consumidor contemporâneo, que usufrui sem chegar a ser enófilo, não a compreende muitas vezes. Uma região que nem muitos bairradinos a entendem.
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Lá vem a polémica das castas (tem de ser): uma denominação de origem tem de ser tradição. A evocação duma denominação de origem não significa maior nem menor qualidade do que menção «regional». Quanto a mim, cada um planta o que quer, seja qual for a razão e critério. Custa é ler num rótulo Bairrada (ou outra) menções a cabernet sauvignon, merlot, viognier, sauvignon blanc ou outra qualquer – por muito bons que sejam os vinhos. Desde já afirmo que gosto mesmo muito dos néctares de Carlos Campolargo, mas há alguns que, no meu conceito de região, não deviam ser classificados como Bairrada. Bem, assunto encerrado. Entendam-se, organizem-se e tenham sucesso.
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O Mário Sérgio é um rosto da tradição. Se transgride é ligeiramente e pontualmente. Os Quintas das Bágeiras são mesmo Bairrada! O seu enólogo Rui Moura Alves, homem que se formou e doutorou sozinho – grande valor.
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A publicação desta crónica está atrasada – como as que recentemente saíram e as que estão na calha. O que talvez seja uma vantagem, pelo distanciamento face a 10 de Julho, quando se deu a festa e o lançamento de três vinhos de homenagem.
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Visitar Mário Sérgio implica ganhar peso. Não há volta a dar. O vinho é rico em calorias e o leitão é pecaminoso. O Mugasa – a par da Casa Vidal – faz o melhor leitão da Bairrada que conheço. O nosso vinhateiro tem forno e uma relação de amizade próxima com o proprietário e assador do Mugasa.
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Garantidamente leitão. Leitão português e bairradino (não sei se bísaro). Assado com lenha de videira. Os leitões do Mugasa abrem a porta para o paraíso gastronómico... ou seja, vai toda a gente parar ao Inferno.
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Nesta celebração dos 25 anos, Mário Sérgio apresentou os vinhos Quinta das Bágeiras Pai Abel Branco 2012, Quinta das Bágeiras Pai Abel Tinto 2009 e Quinta das Bágeiras Avô Fausto Tinto 2010.
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Tratando-se de vinhos de homenagem não os classificarei. O Quinta das Bágeiras Pai Abel Branco 2012 resulta dum lote de maria gomes e bical. O Quinta das Bágeiras Pai Abel Tinto 2009 é composto por baga (80%) e touriga nacional. O Quinta das Bágeiras Avô Fausto é formado por uvas baga (90%) e touriga nacional.
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Grandes vinhos da Bairrada. Grandes vinhos em qualquer lugar em que haja quem saiba apreciar. A Bairrada não é a Disneylândia.
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Mário Sérgio teve (obrigatório) de subir a uma cadeira e discursar. Improvisou e emocionou-se. Por tudo destes 25 anos.
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Que venham mais 75!

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