segunda-feira, maio 12, 2014

Revisitação aos O. Leucura

Há injustiças que me encolerizam... quando era miúdo o tempo custava a passar e queria ser adulto. Hoje, quendera ser criança e não sentir a velocidade alucinante com que passam os dias. Foi um chasco-preto que mo veio mostrar.
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A vinícola mostrou-me novamente os três vinhos. O que contam depois dum ano em guarda? O alentejano ainda não foi provado, pelo que neste texto só abordarei os durienses.
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O que cantam os chascos-pretos? Estes passarinhos, que voam de Norte a Sul do país e vão a África, têm de nome científico Oenanthe leucura, nomenclatura latina que dá o nome a estes dois fora-de-série da Duorum Vinhos (grupo João Portugal Ramos)... e lembra loucura, pois a ideia de fazer dois vinhos duma mesma encosta, com altitudes diferentes, pareceu bizarra aos parceiros José Maria Soares Franco e João Portugal Ramos – isto foi dito há um ano pelos próprios.
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Ah! Sim... o que cantam os chascos-pretos? Ou como cantam... Há um ano, ponto de partida, está ali atrás. Tanto um como outro aceleraram. O chasco-preto é um passarinho não é uma ave corredora, mas estes «passarinhos» estão a dar passadas em direcção ao voo.
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Pondo fim às metáforas, notei uma evolução para melhor, quer no Cota 200 quer no Cota 400. O 200 é mais quente e o 400 demonstra maior frescura, o que é natural, devido à altitude das vides.
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Há um ano hesitei na atribuição de notas aos dois néctares. Acabei pela resposta (óbvia?) do 400 acima do 200 (7,5 ao Cota 400 e 7 ao Cota 200). Provavelmente saberão, se me acompanham na bloguice, que aqui conta o gosto pessoal, mas tendo em conta, ou não penalizando demasiado, a qualidade dos que caíram menos bem.
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A verdade é que há um ano puni o vinho que gostei mais. Por uma razão, na indecisão da preferência, fiz tira-teimas o potencial de evolução. Voltados a serem abatidos este ano, a decisão será a mesma, mas a extremar-se.
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Portanto, este ano gostei mais do Cota 200 do que em 2013. Este ano gostei mais do Cota 400 do que em 2013. Agora, gostei muito mais do Cota 200 do que do 400. Porém...
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O que se deve e pode dizer dum vinho (ou doutras coisas)... o que é ou o que poderá vir a ser? É quase como estabelecer a ordem primária entre o ovo e a galinha. Provar um vinho inacabado é injusto, mas se foi dado para prova, o que se faz?... Prova-se. O que se diz? O presente ou o condicional.
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Penso que as coisas são o que são. Hoje sou gordo e há dez anos era magro. Os O. Leucura não são os mesmos de há um ano... que devo pensar? Avaliar novamente? Teria de começar a fazer isso com todos... é um dilema!... Que não me tira um nano-segundo de sono.
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Pois, este ano gostei mais do Cota 200 quer em relação ao ano passado quer face ao Cota 400. Porém, o 400 é-lhe superior. Esta situação só me tinha acontecido em vinhos que não me encheram as medidas mais altas no goto e que, no entanto, demonstraram grande qualidade.
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Agora é mais difícil, pois para ser justo com um vinho serei injusto com o meu gosto pessoal... até ao final do texto hei-de decidir se não darei duas notas, a do mérito formal e a da apreciação subjectiva... uma hipótese.
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Fora desse quadro, voando uns parágrafos para cima, ambos respiram juventude. Estão com grande fulgor e vivacidade. Se já eram bons há um ano, hoje ganharam balanço. Irão voar ou cair do ninho?
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Vão voar, mas não será ainda no próximo ano que ocorrerão as maiores viagens... Parece-me que o Cota 400 voará mais alto e mais longe. Se pudesse (os dois mestres enólogos podem) guardaria uma frasqueira para lhe acompanhar a vida. O meu saber (grande ou pequeno) e o instinto dizem-me que se podem guardar.
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Estão mais delicados, apesar da força que demonstram. Começam a sublinhar diferenças de carácter (ou isso) e a refinar os traços orográficos. O Cota 200 com a touriga nacional a mostrar-se mais, em relação à touriga franca. Penso que a situação tende a equilibrar-se. Para já a lenha da touriga franca ainda não bate a fruta preta da touriga nacional, que, entretanto, começou a mostrar cereja, morango bem maduro e lembranças de violetas.
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O Cota 400 ganhou cereja e morango, ficando menos violáceo. As notas de ervas secas, não sei se esteva ou se de ramalhete de bravias, dão-lhe tipicidade. A touriga nacional está a brilhar muito, o que acontecerá à franca, não sei... não a senti muito presente... devia estar distraída ou saíra em passeio quando bebi o vinho.
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Pois... quem me lê sabe que tenho uma relação apaixonada com a touriga franca. Provavelmente, quase de certeza, é o olá que a touriga franca me dá no Cota 200 que me faz preferi-lo ao Cota 400.
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Reconheço que a maior frescura do Cota 400 vai fazê-lo mais longevo. A juventude é um estado de graça, mas a vida longa também.
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Devo voltar a pontuá-los? Acho que sim. Vinhos destes, que têm estrada para andar e há um ano debutaram, podem ou devem ser reavaliados.
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O. Leucura Cota 200 Reserva 2008
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Origem: Douro
Produtor: Duorum Vinhos
Nota de justiça: 8,5/10
Nota pessoal (a tradicional do blogue): 8/10
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O. Leucura Cota 400 Reserva 2008
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Origem: Douro
Produtor: Durum Vinhos
Nota de justiça: 8/10
Nota pessoal (a tradicional do blogue): 8,5/10

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