domingo, fevereiro 16, 2014

Le Jardin - A Embaixada

Há uns anos largos (nem quero pensar nisso)... em 1989, fiz o Interail, que era a coisa mais fixe que um jovem podia fazer nas férias grandes, que eram mesmo grandes. Agora há a Easyjet e a Rayanair e... na altura andar de comboio sem adultos era aventura, hoje viaja-se sem estilo em aviões de companhias manhosas.
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Eu, o P e o V arrancámos de Lisboa sem saber muito bem para onde ir. Queríamos chegar à Irlanda e à Escócia, ver Londres e Paris...Não arranjámos poiso em Paris e não vimos nada, cruzámos a cidade com mochilas pesadas e carregadas, entre o cair da noite e a noite... noite, mesmo, abrigados do frio (era Agosto) na escadaria dum wc público...
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Inventámos que em Le Havre haveríamos de apanhar um barco, como nos filmes, para a Irlanda, embora a documentação dissesse que nesse dia não circulavam ferries... bolhas nos pés, cansados, exaustos...
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Lá chegámos à Irlanda no Saint Kilian, onde dormimos, primeiro, no convés sob umas escadas e depois no chão da discoteca... não dormimos nada. Em Dublim conhecemos o Patrick, que desconfiamos e acertámos que era do IRA, que nos mostrou toda a cidade. Fomos para o campo e regressámos à capital irlandesa.
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De Dublim seguimos para Londres e odiamos tanto a metrópole que, só de pensar que teríamos de lá voltar se fôssemos à Escócia, abalámos para a Alemanha.
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Isto foi a entrada... agora vem o bife:
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Em Dublim, nesse ano de 1989 (já tive 19 anos), visitámos um «centro comercial» fantástico. Em vez de corredores e grandes portadas de vidro, de espaços fechados, de desvios... era um antigo palácio convertido ao consumo.
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Passava-se de loja para loja por portas de madeira, cada sala era diferente, mas sempre com uma continuidade de casa grande. Maravilha!...
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E eis que, anos mais à frente, abre uma galeria com esse encanto que encontrei em Dublim. Sempre conheci aquela grande casa fechada, no Jardim do Príncipe Real. Não havia estrago, mas não se via viv’alma.
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Dão-lhe o nome Embaixada, ao Palacete Ribeiro da Cunha, que prefiro chamar-lhe palácio. Palácio urbano, já se vê... O estilo neo-árabe enquadra-o no romantismo e, por conseguinte, no século XIX. E um hectare de jardim resistiu à voragem do cimento de Lisboa.
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O centro do espaço – no meu caso, que tenho neurónios na barriga – é o restaurante: o Le Jardin. Mandam nas mesas, nas comidas, nos serviço os experiente Miguel Picciochi, em parceria com o restaurante Moma (o da Rua de São Nicolau e não o de Copenhaga).
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Sou um romântico e deixo-me abraçar pelos ambientes. Ali, só pode ter havido retoques... a preciosidade já lá estava. Dá uma certa tonalidade de importância, aquele cenário... Os retoques de que falo fazem parte da decoração... enquadram, realçam. Não rompem, mas não se fazem passar por outra coisa. Ou seja: bom gosto e consistência... trabalho inteligente.
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As refeições à carta vão até às 23h00, mas para quem se atrasou tem ao dispor uma carta de petiscos, até às 2h00. Os responsáveis do espaço estabelecem um preço médio, por pessoa, entre os 17 euros e os 25 euros.
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Ou seja, não é um luxo, embora a comida seja de muito boa nota e a envolvência de cenário. É um luxo acessível. E basta pensar na enorme quantidade de tascas – foleiras, de azulejo e alumínio, onde o balcão serve de copa, com o inevitável ruído a talheres e loiças em combates ferozes – que, por pudor chamam restaurantes, que servem refeições nesse mesmo intervalo de preços. Exemplo: Portugália (porque é grande e fácil de acertar, mas basta abrir os olhos e espreitar, para tapar os ouvidos e segurar a algibeira).
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Ora, o intervalo entre os 17 e os 25 euros abarca entrada, prato principal, bebidas, sobremesa e café. Ora, eu, que me manifesto sempre indiferente àquela coisa da relação do preço com a qualidade, tenho de reconhecer que o Le Jardin é bom local de poiso e se enquadra nesse âmbito.
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O Príncipe Real, um dos locais mais charmosos de Lisboa, cuja traça das edificações mostra a elegância antiga, contrasta com a típica (que também gosto) popularidade do Bairro Alto, que ali vai desaguar.
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Fazia falta, ali e em Lisboa, um sítio com elegância e beleza. Diria que hoje é cosmopolita... sítio para «gente gira», sem paciência para o moche e com ouvidos sensíveis à barulheira. Sim, 17 a 25 euros.
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A ementa conta com comidas portuguesas e outras vindas doutros lugares. Cosmopolita e diferente. Variado e bonito.
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Morte ao feio! Viva o bonito!... e bom!
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Onde: Lisboa, Príncipe Real, 26 (palacete Ribeiro da Cunha).
Horário: 12h00 às 2h00.
Aberto todos os dias.
Telefone: 93 832 14 14

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