Lisboa, cerca das 18h00, uma nanomultidão aguarda a
revelação duma nova jóia da Kopke. Ao fundo da sala dum bar decadente,
anacrónico e feio está colocada a cobiçada gema.
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O pedestal deixa brilhar a garrafa de Porto da edição
comemorativa dos 375 anos da Kopke, casa criada pelos alemães Cristiano e
Nicolau Kopke. É a mais antiga firma no negócio e é natural que tenha
preciosidades na oficina. Uma delas é a que foi engarrafada para a celebração.
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Da colheita de 1940 restam quatro cascos (se ouvi bem) e os
enólogos provaram-nas até encontrarem a certa. O ano colheita é
simbólico, pois foi aí que se reconheceu oficialmente a empresa como a decana.
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Este Porto Colheita não foi refrescado com vinho doutros
anos, mas conheceu um estágio de acerto e rejuvenescimento em barricas
avinhadas, embora não jovens.
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O vinho mostra uma enorme frescura e ímpeto. Tem raça,
estilo e personalidade. Tem vida e revela os anos. Uma acidez para lá de Marraquexe,
uma untuosidade além de Bagdade um final quase em Osaca. Complexo e
equilibrado, não efusivo no nariz e com tudo o que é suposto ter num tawny tão
antigo, e não é pouco.
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A qualidade, a antiguidade, a raridade e o simbolismo deste
vinho fazem com que não possa ser barato. Vale o preço? Para mim, está barato. Há
quem não entenda. Infelizmente... diria inf€lismente não posso satisfazer o meu
desejo.
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Ensaiei um roubo. Nada melhor que ter muita gente para
subtrair o diamante. Discreto e sorrateiro, aproximei-me do pedestal. Avancei decidido...
ninguém me levou a sério!
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E eu que gosto tanto de sonhar acordado...
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Queria ser um herói e não um anti-herói. Não vos posso dar a
beber Kopke 375, mas posso ilustrar-vos o meu estado de espírito. Estou entre
um e outro.
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Origem: Vinho do Porto
Produtor: Kopke
Nota: 10/10
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Nota: Vídeos das séries televisivas «Missão Impossível» e «Olho Vivo».
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