segunda-feira, abril 30, 2012

Fronteira 2010

Pronto, lá vou ter de elogiar novamente João Corrêa, Jorge Serôdio Borges e Nuno do Ó. A dupla da Companhia das Quintas brilha e o contributo do autor do Pintas ainda empurra para a frente.
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Não é estratosférico, mas é um belíssimo vinho. Para quem gosta de arrancar uma refeição em grande, colocá-lo-ia numa segunda linha. Para quem prefere ir em crescendo, obviamente que o lugar é o oposto. Não ofusca o grande, mas permite que a conversa decorra com algumas palavras para si. Gostei dele.
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Quem um dia receber amigos estrangeiros, esteja aflito de massa e queira mostrar o Douro tem aqui uma boa solução. O vale está dentro da garrafa.
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Origem: Douro
Produtor: Companhia das Quintas
Nota: 5/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

domingo, abril 29, 2012

Terra d’Alter Reserva Branco 2010

Pois, este aqui chegado já contenta acima e vai além da borda da piscina. Para mim dá bem com umas belas febras na brasa e boa salada portuguesa (alface, tomate, pimento, pepino, azeite, vinagre e orégãos). É Verão à mesa.
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É feito sobretudo de viognier (80%), sendo as partes restantes na mesma proporção, de arinto e verdelho. No nariz mostra pêssego, algum ananás em calda. É de boa boca, com corpo agradável e final contente.
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Terras de Alter
Nota: 6/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

sábado, abril 28, 2012

Terra d’Alter Verdelho 2011

O afirmado ontem, em relação ao colheita, pode em muito dizer-se em relação a este. É um vinho feliz para as tardes e anoiteceres de Verão. Tem um corpo mais interessante, mais complexidade aromática. No patamar destes vinhos tem um final de boca positivo e agradável. No nariz mostra-se tropical e mediterrânico, com maracujá e ameixa branca. Para mim, não me canso de o escrever, o maracujá era evitável. Mas inevitável é só a morte.
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Terras de Alter
Nota: 5/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

sexta-feira, abril 27, 2012

Terra d’Alter Colheita Branco 2011

Este é um típico vinho de piscina; leve, com frescura, fácil. Escorregadio, o que o torna perigoso nas curvas. Vem com pezinhos de lã e se não nos cuidamos. Tem no nariz a fruta tropical, felizmente sem abuso de maracujá… tásse bem!
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Terras de Alter
Nota: 4/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

quinta-feira, abril 26, 2012

Invisível 2011

Invisível bem concreto, com matéria. Chama-se assim, nome feliz, por ser um vinho branco feito a partir de uvas tintas, em concreto da casta aragonês. Gosto do conceito. Nada que não se soubesse, até bem comum entre espumantes, mas o golpe é brilhante. Ao que sei, a ideia vingou e tem sucesso, ainda bem para o produtor, para a economia e enófilos.
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É curioso que num país de vinho ainda se pense que os rosês são misturas de brancos com tintos e que só as uvas brancas dão brancos. Por um lado ainda bem, pois permite uma surpresa como o Invisível. Confesso que gosto da ideia… tivessem-se lembrado antes.
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Em termos de vinho não é das minhas preferências. Não me refiro à qualidade, mas apenas ao estilo. De toda a forma fez sucesso cá em casa entre os convidados. Apreciei-o mais no nariz do que na boca. Aromas de lima e erva cortada, seivosa. Na boca uma interessante (apesar do que disse antes) entre o doce e o final seco, não chegando a acre. É bem balanceado. Merece nota bem positiva, embora não faça o estilo.
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Origem: Regional Alentejano
Produtor: Adega Ervideira
Nota: 6/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

sexta-feira, abril 20, 2012

Quinta do Boição Arinto – Extra Bruto Spécial Cuvée 2006

Passo a vida a melgar a Dona São e o senhor Coimbra, a mandar vir que os vinhos que vendem (mercearia mesmo em frente a casa) não são os desejados. Porque isto e porque aquilo… Os senhores têm muita paciência para me aturar!
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Pois outro dia andava, como quase sempre, de olhos nas prateleiras do vinho e esbarrei com esta garrafa, a última, por sinal. Apetecia-me um espumante e este sorria-me, gritando Bucelas, região que aprecio vivamente. Abri os cordões à bolsa e levei-a fiada.
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Sendo de Bucelas, reina o fruto arinto, aqui em exclusividade. O dégorgement foi feito em 2009 e depois estagiou em cave durante 30 meses.
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Abri-a, cheirei e bebi… aaaah! Belo! Uma frescura e uma complexidade que me deixaram de sorriso posto. No nariz mostrou-se vegetal, sobressaindo a salsa, mais um toque de noz moscada e um pouco de limão. Na boca revelou-se fresco, com uma acidez bem balanceada, uma borbulhagem média e agradável, embora não cremosa, um final médio e com um travo vagamente doce.
Bati palmas.
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Origem: Bucelas
Produtor: Enovalor
Nova: 7/10

sexta-feira, abril 13, 2012

Vinhos D'Eça

Dois belos vinhos de um produtor desconhecido, que faz vinho por amor e empenho. Apaixonou-se por uma quinta e teve a possibilidade de a comprar. É bom haver estórias felizes.
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A Quinta de Nossa Senhora do Loreto situa-se em Sabrosa, no Douro e está na posse de João Almeida D'Eça e de Maria Carlos Almeida D’Eça desde 1987. Ao todo são nove hectares de vinha, de castas tradicionais da região.
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Já escrevi vezes bastantes que o carácter e o feitio de quem faz um vinho se transmite ao produto. Mas para isso é preciso também que o enólogo saiba interpretar os sentimentos para criar uma obra. Julgo que é o caso de Daniel Fraga Gomes.
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Afirmo isto, mesmo sem conhecer propriamente os donos da casa. Travei com eles uma belíssima conversa, iluminada por um dos seus néctares, e a percepção foi muito boa. Para quem acredita que as primeiras impressões é que marcam, ou que são mesmo definitivas e verdadeiras, sabe do que estou a falar. Confirmando o bom carácter está a minha querida Mafalda Nunes.
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Degustei dois vinhos, um que me pareceu ser um reserva, embora não o refira no rótulo, e um outro mais fácil. Tratam-se de dois tintos, e ambos com franqueza e elegância. O preferido foi o D’Eça (letras góticas – 2010), o outro escreve-se com caracteres modernos (2009), num tipo de letra que não sei identificar.
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O D’Eça 2009 é um vinho com finura olfactiva, muito fácil e delicado, embora com as suas especiarias, nomeadamente uma deliciosa evocação a cravinho. Mostra café e folhas de tabaco, nem secas nem húmidas, e framboesas. Na boca mostra-se fino, com corpo sem ser corpanzudo, tem um belo final. As uvas são as tinta roriz (55%), a touriga nacional (30%) e a tinto cão (15%).
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O D’Eça 2010 é igualmente elegante e complexo, mas revela-se mais encorpado e guloso. No nariz há um conjunto de cheiros que se complementam, desde a framboesas, ao café torrado, a uma citação de chocolate preto, de folhas de tabaco entre o seco e o húmido e as especiarias… canela, cravinho (muito discreto). Na boca é veludo e envolvente, com uma acidez que promete longevidade e um final longo.
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D’Eça 2009
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Origem: Douro
Produtor: João Carlos Moura Coutinho Almeida D'Eça de Sousa
Nota: 7/10
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D’Eça 2010
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Origem: Douro
Produtor: João Moura Coutinho Almeida d’Eça de Sousa
Nota: 8/10

quinta-feira, abril 12, 2012

Quinta do Cardo Síria 2010

Este vinho prova que se podem fazer vinhos bons e baratos. Confesso que sou fã dos vinhos da Companhia das Quintas e da sua dupla enológica João Corrêa e Nuno do Ó. Não me lembro se aqui alguma vez escrevi acerca dos síria desta quinta beirã, mas, pelo menos, elogio-o com frequência em conversas.
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Tal como os livros do Tintim, este vinho tem diferentes níveis de leitura. Por um lado é fácil e fresco, bom para a piscina, por outro é bastante gastronómico e por um outro ainda permite saborear longamente, pois tem uma complexidade desafiante. E isto num vinho de baixo preço.
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Gosto da sua mineralidade, do suave aroma floral, talvez rosas, e da sua mais evidente fruta, com suave tropicalidade (coisa que não costumo apreciar). Na boca é guloso, escorregadio, quase perigosamente escorregadio, mas que se comporta como um senhor se lhe pedirem que se acalme.
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Origem: Beira Interior
Produtor: Companhia das Quintas
Nota: 7/10

Quinta do Alqueve Chadonnay 2010 e Casa Santos Lima Sousão 2008

Bom dia! Que tal, como está? Vou andando, mas fiz dois disparates… iguais. Por que carga de água me havia de esquecer de fazer apontamento de dois belos vinhos tragados cá em casa? Aguardei umas semanas, com procuras sistemáticas e frequentes, e verifiquei o que temia e desconfiava: não tomei notas.
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Porém, dois belos vinhos merecem referência no blogue, nem que seja para dizer que são bons. Embora tenha na memória características, não estão a ponto de me sentir confortável para escrever a crónica que merecem. Por isso também não lhes irei dar uma nota. Fico-me por umas generalidades.
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Primeiro: o Quinta do Alqueve Chadonnay 2010 prova que o Ribatejo aka Tejo tem boas condições para fazer bom vinho e que há quem o esteja a fazer. Eu, que implico tanto com as castas estrangeiras nas nossas regiões, não posso deixar de salientar a qualidade dum produto. A cara da garrafa é bonita, ilustrada com um peixe muito feio, o charroco.
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Segundo: o Casa Santos Lima Sousão 2008 prova que esta casta pode dar bons resultados. Se no Douro, onde a tratam também por sousão, entra bem em lotes, completando-os, na região dos Vinhos Verdes, ali chamada de vinhão… continuo sem acreditar que haja um bom Verde tinto. Ali na Estremadura aka Lisboa faz-se do bom. Não é para menos, é a Casa Santos Lima quem o produz. Deste produtor tenho ainda a dizer que, uma vez que lá fui em reportagem para o Da Terra Ao Mar, da RTP 2, provei um belíssimo moscatel, não fortificado, que me caiu muito bem. Recordo-o com saudade e carinho.
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Tenho ainda a dizer: obrigado Mafalda Félix, da Garrafeira Campo de Ourique, por mais uma vez acertares nas dicas. Abraço ao mestre Arlindo Santos, que bem se sabe rodear de produtores e vinhos de qualidade.

terça-feira, abril 10, 2012

Comunicação e vinho

Há já quase uns anos largos não havia marcas de vinhos em Portugal; agora há. Há menos de dez anos, os rótulos dos vinhos eram miseráveis; começam a não ser. Até há dois ou três anos, a comunicação das marcas e dos produtos era inexistente; já se está a corrigir a situação. Mas há ainda que trabalhar.
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Esquecendo as marcas, ultrapassando os rótulos, centro-me na comunicação, mas não tanto na publicidade. Os anúncios são fraquitos, mas entende-se, pois os orçamentos são caros; ou se pagam as páginas ou se paga boa criatividade, não há dinheiro para tudo.
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Mais barata e mais eficaz, não tenho dúvida, é a comunicação, sobretudo para os vinhos de prateleira acima do médio/baixo. Se os do topo têm laudas da crítica, as gamas médias, com tiragens já interessantes, precisam muito de se mostrarem e de serem notícia.
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Todavia, há quem ande a dormir ou distraído. É claro que quanto mais gente houver a comunicar, mais esforço terá de haver do cliente e do consultor. Porém, a generalização da comunicação vai abrir a sensibilidade da imprensa, e não me refiro à especializada.
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Os vinhos de grande consumo, ou de combate, apontam às prateleiras dos hipermercados e supermercados, têm de entrar nas lojas de desconto, nas mercearias e nas bombas de gasolina. A tarefa é grande. Já os vinhos de topo têm de se mostrar bem nas garrafeiras e mercearias finas (hoje pomposamente designadas por lojas gourmet) e sair nas revistas da especialidade. No meio… a luta é também é aguerrida, pois são vinhos com menores custos de produção do que os topo de gama, com mais-valias face aos de entrada de gama, estão entalados.
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Compro habitualmente a Revista de Vinhos e a Wine, e felizmente informação não falta. O problema é não estar além destas publicações. Se falar da publicidade pergunto-me o que faz um vinho de três euros anunciado nesses meios. Não querendo corroer os bolsos das revistas nem ensinar nada a ninguém (apenas dou a minha opinião), pergunto-me. O sr. Joaquim da sapataria ou a Dona Adosinda funcionária pública não compram essas revistas de prestígio, mas gostam de vinho e no Natal ou na Páscoa até cometem a extravagância de gastar dez euros num vinho… não é assim? Então procure-se saber até onde vão os preços praticados em 80% do mercado. Surpreeeeeesaaaa!!! O patamar é mesmo muito baixo. Quantas pessoas dizem que não gastam mais do que cinco euros num vinho? É preciso comunicar na imprensa generalista.
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Espero que todas as publicações tenham muita publicidade, pois é ela que paga os salários e os custos de produção. Mas, publicidade é publicidade e comunicação para a imprensa é outra coisa. As notícias dão uma credibilidade que a publicidade não dá… por isso é que existe, nomeadamente nos vinhos. Quando compramos a Revista de Vinhos ou a Wine sabemos que podemos confiar, pois o trabalho é feito por jornalistas e críticos profissionais. Mas, para vender garrafas é preciso ir além dos enófilos praticantes, é preciso chegar à imprensa generalista, que cobre um mercado mais vasto.
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Pois aí a aposta falha, genericamente. Há quem já ande de olhos mais abertos e reconheça que tem de se estar presente além das publicações da especialidade para vender vinhos além dos de combate. Um passo acertado é contratar um profissional de comunicação, individual ou em empresa.
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Como em todas as actividades há bom, mau e assim-assim. E muito do mau resulta por culpa do cliente ou da graxa do consultor, devido à precaridade do contrato ou à fragilidade por exigência de resultados mágicos. Como se sabe, magia só existe dentro das garrafas, e só em algumas.
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O cliente pensa (não apenas no vinho, mas em todas as actividades) que contratando uma agência de comunicação vai ser primeira página do Expresso, vai ter uma reportagem na Visão ou na Sábado, etc. Mas não é assim, nem tem de ser. Muitos clientes pensam (além dos do vinho) que contratar uma empresa de comunicação é garantia de saída de notícias, como se os consultores mandassem nos jornalistas; não houvesse critérios independência editoriais. Conto um episódio pessoal: Há uns anos, quando trabalhei numa empresa de comunicação, houve um cliente que queria que eu tirasse uma notícia… como tirar uma notícia? Não há hipótese, quando se abre a boca já não se pode impedir que os ouvidos a oiçam; estava na Lusa, que divulgou para mais gente… Outra gente exige que a empresa saia, com determinada notícia, no jornal X e na edição Y. Como? Não é assim que as coisas se passam… felizmente!
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Portando, a ignorância é vasta. O que não será um problema se o cliente souber confiar na competência do profissional que contratou… o consultor não é um dactilógrafo ou um secretário, para fazer exactamente o que lhe mandam. Não deve lá estar para dizer amém ao cliente; está lá para dar a sua opinião, espicaçar o pensamento… Claro, mas a última palavra é sempre de quem passa o cheque… é muito mau quando se chega aí! Se o cliente sabe mais da poda de comunicação do que o consultor, então para que precisa de um?
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Continuando no mau… tem havido, de facto, um esforço de alguns, cada vez mais, produtores em apostar na comunicação. Porém, por culpa das suas ideias teimosas, sabedoria ignorante ou incompetência de quem o assiste, muitos são os comunicados aleijados. Quantos não são uma pura confusão com publicidade? Promessas de dias de sonho a beber um tal vinho, os momentos de deleite a saborear o outro vinho… as promessas são, por regra, para os anúncios. Um comunicado tem de ser quase uma notícia, que no caso é parcial, assumidamente. Se quer essas mensagens que ponha um anúncio, não faça os jornalistas perder tempo nem ficar com má-vontade.
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Outro erro básico é o suporte em que o comunicado segue para o jornalista; pdf, power points, links, anexos, ficheiros para download… é um disparate pegado. Só uma cabecinha que nunca passou por uma redacção, que não conhece o trabalho dum jornalista ou que não pensa, pode fazer seguir, apenas nesse modo, o comunicado do seu cliente. Se quer mandar em anexo, que mande também no corpo da mensagem. Conselho amigo e de borla.
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Porquê? Porque os jornalistas não têm tempo, porque estão cheios de trabalho, porque há coisas mais importantes do que abrir ficheiros… e se a coisa vem mal feita é um adeus. Na confusão das redacções, dos prazos apertados e das montanhas de emails para ler, nos 500 telefonemas para atender, na pressão do fecho vinga o mais forte, ou seja o bem feito, quero dizer eficaz. Simples, conciso, objectivo no propósito, honesto, credível…
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Tenho um grande amigo, editor num grande órgão de comunicação nacional, que se recusa a abrir anexos: Não tenho tempo a perder. Azar! Outro diz-me, além desse mesmo, que há emails de determinadas agências que nem sequer abre. Azar, pouca credibilidade.
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A banalização dos comunicados, o vazio de interesse, o bombardeamento constante também desajudam. Outro amigo, editor noutro importante órgão de comunicação, tem a caixa de correio sempre cheia. É de propósito, para que as agências de comunicação não o macem com banalidades. Alguns assessores têm o seu número e fazem bom uso dele…
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A pouca credibilidade vem dos defeitos técnicos do comunicado, do mau uso da tecnologia, da banalização de informações sem interesse, de envio para destinatários errados (é muito mais fácil usar a mesma base de dados para tudo… eu até de funerárias recebo comunicados).
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Claro, um bom assessor ultrapassa isso. Conhece e tem o contacto do jornalista chave, liga-lhe a dar-lhe o toque. Isso vem da relação de confiança. E essa perde-se com as asneiras já descritas. O jornalista avalia sempre a importância da informação, mas um bom assessor sabe convence-lo (a bem e sem qualquer tipo de «ajudas») a dar um espaço. É assim em todo o mundo. O bom assessor sabe criar o momento, o evento, a oportunidade. O mau manda comunicados cheios de adjectivos, fazendo babar o cliente, manda-os em anexos catitas, mas atrapalhadores, telefona sempre a melgar o jornalista, porque o cliente pede, etc..
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O cliente não é a pessoa mais importante do mundo, embora, quase sempre, assim pense, porque é quem assina os cheques. Dou outro exemplo: há uns anos, quando trabalhei na comunicação, tive um cliente que se lamentava ter poucos jornalistas nos seus eventos, e que  por isso mudara para a empresa onde eu trabalhava. Antes tinha dois ou três (sic!) e de órgãos que lhe interessavam pouco ou nada, e tinha passado a ter 20 ou mais e importantes. Claro, a credibilidade minha, do meu chefe e da agência, e a agenda pessoal deram jeito. Todavia, nem todos os eventos geravam notícia ou davam a pretendida. Disse-me do alto da sua soberba:
– Oiça lá, óh João Barbosa, por que é que as conferências X e Y não tiveram notícias?
Decidi ser honesto comigo, com ele, com a empresa onde trabalhava e com a função:
– Porque não tinham interesse!
Ficou boquiaberto a olhar para mim. Mais tarde tive de fazer um relatório de balanço do ano. Como consultor, escrevi o que pensava que tinha corrido de bom e de mau. Não tive receio de lhe dar nas orelhas… (educadamente, bem se vê). Aquele documento importante não teve impacto na imprensa? Pois, quem lhe disse que podia dar um exclusivo e logo a uma televisão? Pois, o cliente matou a notícia e nem sequer informou o consultor. Porém, quando me vim embora continuou cliente. Tenho a certeza que ficou mais bem impressionado com o trabalho do que se tivesse apresentado argumentos bajuladores e que não explicassem a verdade. Se chove não é porque se tenha aberto o guarda-chuva.
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A primeira coisa que o cliente tem de perceber é que de vinho (ou outra coisa) percebe ele e de comunicação percebe o consultor de comunicação. A segunda é que a sua empresa e a sua informação não são as mais importantes do país. Já de regresso ao jornalismo, numa reportagem, perguntou-me um produtor:
– O que tenho de fazer para o meu vinho aparecer no telejornal?
– Tem de morrer alguém numa cuba…
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Comunicar para os blogues? Sim, pois são uma forma moderna e informal de apresentar os produtos. Com a vantagem de não haver limitações de espaço ou de tempo para a apresentação dos textos.
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Os blogues são credíveis? Quanto a mim são. Não tenho, até hoje, qualquer razão para desconfiar de qualquer bloguista ou de pôr em causa a honestidade da sua opinião (o mesmo digo dos jornalistas, não vejo qualquer sombra de pecado). Os bloguistas não são jornalistas amadores (julgo que nos vinhos seja o único que é blogueiro e jornalista, embora não desta especialidade). Mas nos espaços de debate dos bloguistas no Facebook são levantadas, com muita frequência, questões centrais de ética e deontologia do jornalismo. Temas tão queridos (martelados até à exaustão) dos jornalistas, desde sempre e também no fórum do Facebook dos tarimbeiros das letras (onde a linguagem é bem mais desbragada do que nos fóruns dos blogueiros). Por mim, já dei para esses peditórios, já levo com a temática há 22 anos.
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Para que se veja onde vai a distracção dos produtores (generalizo, mas é mesmo assim) dou novo exemplo passado com uma pessoa que escreve profissionalmente sobre esta temática. Foi, mais ou menos, isto:
– Por que não escreve sobre os meus vinhos?
– Mas mandou-me alguma informação?
– Não.
– Então como quer que eu saiba que produz vinho?
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E quantos produtores gastam dinheiro em participações em concursos e, mesmo ganhando medalhas, não comunicam? As medalhas valem o que valem, não lhes dou grande valor, mas é certo que o público dá. Lembram-se do «melhor vinho do mundo», que levou ao esgotamento dos stocks? Para quê concorrer se depois não noticiam as vitórias?
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Um outro exemplo, este «institucional»: há coisa de dois anos, o João Tavares de Pina teve a boa iniciativa de criar um evento para a divulgação do vinho do Dão; Dão, The Next Big Thing. Convidou amigos e concorrentes, montou o negócio. Os custos foram partilhados, certamente, mas o esforço grande foi dele. A iniciativa foi meritória, com erros, desculpáveis a quem não é da arte, mas foi esmagadoramente bem realizada.
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Infelizmente, a iniciativa não teve continuação. Os produtores são de pequena dimensão, e abalançarem-se com grandes projectos comunicacionais é custoso. Mas a união faz a força, sendo certo que o associativismo neste país é pecado. Por que não o escol dos produtores do Dão se atirar para novos The Next Big Thing? E ainda estabelecer um contrato permanente de comunicação. Conhecendo alguns valores, diria que a obra se paga facilmente e nem será um balúrdio. Mas cada um sabe de si e dos seus bolsos. Penso que só basta querer.
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Felizmente há bons profissionais e que têm bons resultados. Não vou cometer a indelicadeza de só divulgar alguns. Há que abrir os olhos e pensar em abrir a boca! Quero terminar com um excelente exemplo: Os Douro Boys. Produtores de excelência, pois são, e com um belíssimo trabalho de comunicação. Se há inveja e mau olhado, se fazem melhor? Que arregacem as mangas e trabalhem.

Comunicação e vinho


Há já quase uns anos largos não havia marcas de vinhos em Portugal; agora há. Há menos de dez anos, os rótulos dos vinhos eram miseráveis; começam a não ser. Até há dois ou três anos, a comunicação das marcas e dos produtos era inexistente; já se está a corrigir a situação. Mas há ainda que trabalhar.
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Esquecendo as marcas, ultrapassando os rótulos, centro-me na comunicação, mas não tanto na publicidade. Os anúncios são fraquitos, mas entende-se, pois os orçamentos são caros; ou se pagam as páginas ou se paga boa criatividade, não há dinheiro para tudo.
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Mais barata e mais eficaz, não tenho dúvida, é a comunicação, sobretudo para os vinhos de prateleira acima do médio/baixo. Se os do topo têm laudas da crítica, as gamas médias, com tiragens já interessantes, precisam muito de se mostrarem e de serem notícia.
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Todavia, há quem ande a dormir ou distraído. É claro que quanto mais gente houver a comunicar, mais esforço terá de haver do cliente e do consultor. Porém, a generalização da comunicação vai abrir a sensibilidade da imprensa, e não me refiro à especializada.
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Os vinhos de grande consumo, ou de combate, apontam às prateleiras dos hipermercados e supermercados, têm de entrar nas lojas de desconto, nas mercearias e nas bombas de gasolina. A tarefa é grande. Já os vinhos de topo têm de se mostrar bem nas garrafeiras e mercearias finas (hoje pomposamente designadas por lojas gourmet) e sair nas revistas da especialidade. No meio… a luta é também é aguerrida, pois são vinhos com menores custos de produção do que os topo de gama, com mais-valias face aos de entrada de gama, estão entalados.
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Compro habitualmente a Revista de Vinhos e a Wine, e felizmente informação não falta. O problema é não estar além destas publicações. Se falar da publicidade pergunto-me o que faz um vinho de três euros anunciado nesses meios. Não querendo corroer os bolsos das revistas nem ensinar nada a ninguém (apenas dou a minha opinião), pergunto-me. O sr. Joaquim da sapataria ou a Dona Adosinda funcionária pública não compram essas revistas de prestígio, mas gostam de vinho e no Natal ou na Páscoa até cometem a extravagância de gastar dez euros num vinho… não é assim? Então procure-se saber até onde vão os preços praticados em 80% do mercado. Surpreeeeeesaaaa!!! O patamar é mesmo muito baixo. Quantas pessoas dizem que não gastam mais do que cinco euros num vinho? É preciso comunicar na imprensa generalista.
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Espero que todas as publicações tenham muita publicidade, pois é ela que paga os salários e os custos de produção. Mas, publicidade é publicidade e comunicação para a imprensa é outra coisa. As notícias dão uma credibilidade que a publicidade não dá… por isso é que existe, nomeadamente nos vinhos. Quando compramos a Revista de Vinhos ou a Wine sabemos que podemos confiar, pois o trabalho é feito por jornalistas e críticos profissionais. Mas, para vender garrafas é preciso ir além dos enófilos praticantes, é preciso chegar à imprensa generalista, que cobre um mercado mais vasto.
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Pois aí a aposta falha, genericamente. Há quem já ande de olhos mais abertos e reconheça que tem de se estar presente além das publicações da especialidade para vender vinhos além dos de combate. Um passo acertado é contratar um profissional de comunicação, individual ou em empresa.
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Como em todas as actividades há bom, mau e assim-assim. E muito do mau resulta por culpa do cliente ou da graxa do consultor, devido à precaridade do contrato ou à fragilidade por exigência de resultados mágicos. Como se sabe, magia só existe dentro das garrafas, e só em algumas.
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O cliente pensa (não apenas no vinho, mas em todas as actividades) que contratando uma agência de comunicação vai ser primeira página do Expresso, vai ter uma reportagem na Visão ou na Sábado, etc. Mas não é assim, nem tem de ser. Muitos clientes pensam (além dos do vinho) que contratar uma empresa de comunicação é garantia de saída de notícias, como se os consultores mandassem nos jornalistas; não houvesse critérios independência editoriais. Conto um episódio pessoal: Há uns anos, quando trabalhei numa empresa de comunicação, houve um cliente que queria que eu tirasse uma notícia… como tirar uma notícia? Não há hipótese, quando se abre a boca já não se pode impedir que os ouvidos a oiçam; estava na Lusa, que divulgou para mais gente… Outra gente exige que a empresa saia, com determinada notícia, no jornal X e na edição Y. Como? Não é assim que as coisas se passam… felizmente!
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Portando, a ignorância é vasta. O que não será um problema se o cliente souber confiar na competência do profissional que contratou… o consultor não é um dactilógrafo ou um secretário, para fazer exactamente o que lhe mandam. Não deve lá estar para dizer amém ao cliente; está lá para dar a sua opinião, espicaçar o pensamento… Claro, mas a última palavra é sempre de quem passa o cheque… é muito mau quando se chega aí! Se o cliente sabe mais da poda de comunicação do que o consultor, então para que precisa de um?
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Continuando no mau… tem havido, de facto, um esforço de alguns, cada vez mais, produtores em apostar na comunicação. Porém, por culpa das suas ideias teimosas, sabedoria ignorante ou incompetência de quem o assiste, muitos são os comunicados aleijados. Quantos não são uma pura confusão com publicidade? Promessas de dias de sonho a beber um tal vinho, os momentos de deleite a saborear o outro vinho… as promessas são, por regra, para os anúncios. Um comunicado tem de ser quase uma notícia, que no caso é parcial, assumidamente. Se quer essas mensagens que ponha um anúncio, não faça os jornalistas perder tempo nem ficar com má-vontade.
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Outro erro básico é o suporte em que o comunicado segue para o jornalista; pdf, power points, links, anexos, ficheiros para download… é um disparate pegado. Só uma cabecinha que nunca passou por uma redacção, que não conhece o trabalho dum jornalista ou que não pensa, pode fazer seguir, apenas nesse modo, o comunicado do seu cliente. Se quer mandar em anexo, que mande também no corpo da mensagem. Conselho amigo e de borla.
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Porquê? Porque os jornalistas não têm tempo, porque estão cheios de trabalho, porque há coisas mais importantes do que abrir ficheiros… e se a coisa vem mal feita é um adeus. Na confusão das redacções, dos prazos apertados e das montanhas de emails para ler, nos 500 telefonemas para atender, na pressão do fecho vinga o mais forte, ou seja o bem feito, quero dizer eficaz. Simples, conciso, objectivo no propósito, honesto, credível…
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Tenho um grande amigo, editor num grande órgão de comunicação nacional, que se recusa a abrir anexos: Não tenho tempo a perder. Azar! Outro diz-me, além desse mesmo, que há emails de determinadas agências que nem sequer abre. Azar, pouca credibilidade.
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A banalização dos comunicados, o vazio de interesse, o bombardeamento constante também desajudam. Outro amigo, editor noutro importante órgão de comunicação, tem a caixa de correio sempre cheia. É de propósito, para que as agências de comunicação não o macem com banalidades. Alguns assessores têm o seu número e fazem bom uso dele…
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A pouca credibilidade vem dos defeitos técnicos do comunicado, do mau uso da tecnologia, da banalização de informações sem interesse, de envio para destinatários errados (é muito mais fácil usar a mesma base de dados para tudo… eu até de funerárias recebo comunicados).
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Claro, um bom assessor ultrapassa isso. Conhece e tem o contacto do jornalista chave, liga-lhe a dar-lhe o toque. Isso vem da relação de confiança. E essa perde-se com as asneiras já descritas. O jornalista avalia sempre a importância da informação, mas um bom assessor sabe convence-lo (a bem e sem qualquer tipo de «ajudas») a dar um espaço. É assim em todo o mundo. O bom assessor sabe criar o momento, o evento, a oportunidade. O mau manda comunicados cheios de adjectivos, fazendo babar o cliente, manda-os em anexos catitas, mas atrapalhadores, telefona sempre a melgar o jornalista, porque o cliente pede, etc..
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O cliente não é a pessoa mais importante do mundo, embora, quase sempre, assim pense, porque é quem assina os cheques. Dou outro exemplo: há uns anos, quando trabalhei na comunicação, tive um cliente que se lamentava ter poucos jornalistas nos seus eventos, e que  por isso mudara para a empresa onde eu trabalhava. Antes tinha dois ou três (sic!) e de órgãos que lhe interessavam pouco ou nada, e tinha passado a ter 20 ou mais e importantes. Claro, a credibilidade minha, do meu chefe e da agência, e a agenda pessoal deram jeito. Todavia, nem todos os eventos geravam notícia ou davam a pretendida. Disse-me do alto da sua soberba:
– Oiça lá, óh João Barbosa, por que é que as conferências X e Y não tiveram notícias?
Decidi ser honesto comigo, com ele, com a empresa onde trabalhava e com a função:
– Porque não tinham interesse!
Ficou boquiaberto a olhar para mim. Mais tarde tive de fazer um relatório de balanço do ano. Como consultor, escrevi o que pensava que tinha corrido de bom e de mau. Não tive receio de lhe dar nas orelhas… (educadamente, bem se vê). Aquele documento importante não teve impacto na imprensa? Pois, quem lhe disse que podia dar um exclusivo e logo a uma televisão? Pois, o cliente matou a notícia e nem sequer informou o consultor. Porém, quando me vim embora continuou cliente. Tenho a certeza que ficou mais bem impressionado com o trabalho do que se tivesse apresentado argumentos bajuladores e que não explicassem a verdade. Se chove não é porque se tenha aberto o guarda-chuva.
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A primeira coisa que o cliente tem de perceber é que de vinho (ou outra coisa) percebe ele e de comunicação percebe o consultor de comunicação. A segunda é que a sua empresa e a sua informação não são as mais importantes do país. Já de regresso ao jornalismo, numa reportagem, perguntou-me um produtor:
– O que tenho de fazer para o meu vinho aparecer no telejornal?
– Tem de morrer alguém numa cuba…
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Comunicar para os blogues? Sim, pois são uma forma moderna e informal de apresentar os produtos. Com a vantagem de não haver limitações de espaço ou de tempo para a apresentação dos textos.
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Os blogues são credíveis? Quanto a mim são. Não tenho, até hoje, qualquer razão para desconfiar de qualquer bloguista ou de pôr em causa a honestidade da sua opinião (o mesmo digo dos jornalistas, não vejo qualquer sombra de pecado). Os bloguistas não são jornalistas amadores (julgo que nos vinhos seja o único que é blogueiro e jornalista, embora não desta especialidade). Mas nos espaços de debate dos bloguistas no Facebook são levantadas, com muita frequência, questões centrais de ética e deontologia do jornalismo. Temas tão queridos (martelados até à exaustão) dos jornalistas, desde sempre e também no fórum do Facebook dos tarimbeiros das letras (onde a linguagem é bem mais desbragada do que nos fóruns dos blogueiros). Por mim, já dei para esses peditórios, já levo com a temática há 22 anos.
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Para que se veja onde vai a distracção dos produtores (generalizo, mas é mesmo assim) dou novo exemplo passado com uma pessoa que escreve profissionalmente sobre esta temática. Foi, mais ou menos, isto:
– Por que não escreve sobre os meus vinhos?
– Mas mandou-me alguma informação?
– Não.
– Então como quer que eu saiba que produz vinho?
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E quantos produtores gastam dinheiro em participações em concursos e, mesmo ganhando medalhas, não comunicam? As medalhas valem o que valem, não lhes dou grande valor, mas é certo que o público dá. Lembram-se do «melhor vinho do mundo», que levou ao esgotamento dos stocks? Para quê concorrer se depois não noticiam as vitórias?
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Um outro exemplo, este «institucional»: há coisa de dois anos, o João Tavares de Pina teve a boa iniciativa de criar um evento para a divulgação do vinho do Dão; Dão, The Next Big Thing. Convidou amigos e concorrentes, montou o negócio. Os custos foram partilhados, certamente, mas o esforço grande foi dele. A iniciativa foi meritória, com erros, desculpáveis a quem não é da arte, mas foi esmagadoramente bem realizada.
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Infelizmente, a iniciativa não teve continuação. Os produtores são de pequena dimensão, e abalançarem-se com grandes projectos comunicacionais é custoso. Mas a união faz a força, sendo certo que o associativismo neste país é pecado. Por que não o escol dos produtores do Dão se atirar para novos The Next Big Thing? E ainda estabelecer um contrato permanente de comunicação. Conhecendo alguns valores, diria que a obra se paga facilmente e nem será um balúrdio. Mas cada um sabe de si e dos seus bolsos. Penso que só basta querer.
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Felizmente há bons profissionais e que têm bons resultados. Não vou cometer a indelicadeza de só divulgar alguns. Há que abrir os olhos e pensar em abrir a boca! Quero terminar com um excelente exemplo: Os Douro Boys. Produtores de excelência, pois são, e com um belíssimo trabalho de comunicação. Se há inveja e mau olhado, se fazem melhor? Que arregacem as mangas e trabalhem.