sexta-feira, setembro 30, 2011

Elegância alentejana – Lima Mayer Petit Verdot 2006


Dizer-se que Thomaz Lima Mayer é um homem de sete ofícios é faltar à verdade. Dizer-se que teve um só interesse laboral também não é correcto. É empresário, teve empresa de construção de cortes de ténis, outra de piscinas, uma de meios de reprodução e impressão industriais. Em Portugal e no Brasil.
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Como o nome indica é familiar de Adolfo Lima Mayer, magnata e homem de artes do final do século XIX e começo do XX. Este seu herdeiro tomou conta da companhia familiar e a sua mais recente «aventura» é a dos vinhos. Não foi propriamente para se reformar, mas para não ficar parado. Escolheu uma paixão antiga e instalou-a na Quinta de São Sebastião, a quatro quilómetros de Monforte.
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A quinta, com um monte típico alentejano, tem ainda uma ermida dedicada ao santo que lhe dá o nome. É um lugar sossegado, com 30 hectares de vinha, montados de sobro e azinho, duas ribeiras e solo maioritariamente granítico. Há vida selvagem com fartura, contando com os gamos, esses introduzidos.
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O vinho que se apresenta é um tinto, o petit verdot de 2006, uma criação extreme. Não sendo completamente uma novidade, é um néctar com longevidade bastante para se falar dele. Rui Reguinga, o enólogo, põe-lhe a vida útil nos dez anos. A caminho vem o 2008, com lançamento em data incerta de 2011.
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Uma das particularidades é que foi um dos primeiros petit verdot do Alentejo. Variedade que parece ter bons resultados, a avaliar pela multiplicação das vinhas desta casta na região.
A vinha de petit verdot é diminuta, com apenas 2,5 hectares. Maior expressão têm as internacionais cabernet sauvignon e syrah, a naturalizada alicante bouscher e ibérica aragonês (tinta roriz ou tempranillo).
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Natural da vasta região de Bordéus, a petit verdot é uma casta secundária, com uso em tempero de lotes. Originária dos Pirenéus, rumou um pouco mais para cima, tendo alguma expressão na região de Médoc.
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Abandonada e esquecida, foi recuperada no final do século XX, enquadrada num movimento de vontade na diferenciação dos vinhos. Hoje é uma variedade mundial, cultivando-se com expressão na Argentina, Chile, Austrália e Califórnia.
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Outra curiosidade é a variação de algumas características. Enquanto em Bordéus tem com frequência uma suave tropicalidade, com alguma banana, apesar de tinto. No Alentejo resulta mais maduro, com muita fruta preta.

quinta-feira, setembro 29, 2011

Vinho do Paraíso – Taylor’s Scion


Num momento de crise até arrepia apresentar um vinho deste calibre. A idade é muita, a qualidade é imensa, a raridade é grande… caríssimo. Com crise ou sem crise, não estaria disponível à bolsa dos comuns. É talvez o Vinho do Porto mais caro de sempre, em preço de estreia, pois circulam outros Rolls Royce. Todavia, não há forma de escapar à referência, é o vinho do ano! Talvez da década.
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É do tempo em que as vinhas eram diferentes. No século XIX chegou à Europa, vinda da América, um minúsculo insecto que arrasou a vitivinicultura. Sem defesas, as videiras morreram aos milhões. Gerou-se uma grande crise nos países produtores e Portugal teve o primeiro caso 1867, em Vila Real.
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A solução veio com a enxertia em pés de videiras americanas, bravias, mas com defesas naturais. Pois este Taylor´s tem 155 anos, o que quer dizer que é anterior à praga da filoxera.
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Repousava em dois cascos de reserva pessoal duma família duriense. Ora ninguém fica eternamente nesta vida nem pode levar nada para o «outro lado». O dono morreu e os herdeiros venderam-no à Taylor’s. Há ainda a curiosidade dum dos cascos se destinar a Winston Churchill.
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David Guimaraens, enólogo da Taylor’s, provou e não teve dúvidas em adquiri-lo. A opção do que fazer com ele poderia ter sido outra; a de entrar nos lotes dos tawnies velhos (resultantes da junção de néctares de diferentes anos, nomeados por idade de envelhecimento pela média dos anos dos vinhos do blend). O técnico reconheceu as grandes virtudes e preferiu não o mesclar, pois perder-se-ia a fama pública. Apesar das suas 15 décadas, mantém uma frescura e um vigor de excepção.
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O nome é feliz. Há na palavra inglesa «scion» a essência deste vinho do período pre-filoxérico e de nobreza. O vocábulo quer dizer garfo de enxerto, mas também herdeiro de família nobre.
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Foram cheias apenas 1.400 garrafas, desenhadas especialmente. É para quem pode... Mesmo não podendo, sou um dos felizardos que o provou. Espero que o leitor também tenha hipóteses.

quarta-feira, setembro 28, 2011

Com toda a alma do Douro – Gouvyas Tinto Vinhas Velhas 2005


João Roseira é um homem cool. Bem disposto, com humor fino e pronto, não parece ser homem de gargalhadas. Gosta de vinhos diferentes da corrente dominante e com forte carisma, que traduzam a alma das uvas, do solo e do clima… o chamado terroir. São mesmo da terra onde nasceram. Assim acontece com todos os grandes vinhos.
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Parceiro e amigo, Luís Soares Duarte é um dos mais reputados enólogos do Douro, assinando vinhos como os Kolheita de Ideias. Os dois assumem a Bago de Touriga, a pequena empresa produtora dos Gouvyas.
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Gouvyas é a forma antiga do topónimo Gouvinhas, uma aldeia do concelho de Sabrosa, na sub-região do Cima Corgo. Vem o nome por as uvas serem provenientes dessa pequena localidade. A Bago de Touriga não tem vinhas próprias, adquire a fruta a pequenos viticultores.
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O esmagamento fez-se em lagar com pisa a pé, como manda a tradição e a memória. Ao todo fizeram-se pouco mais de 3.000 garrafas. O produtor esgotou o stock, mas o vinho encontra-se, obviamente, nas prateleiras das garrafeiras.
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Como o nome indica, este Vinhas Velhas de 2005 fez-se com uvas de cepas de provecta idade, não com vinte ou trinta anos, mas com décadas e décadas. O resultado é um vinho muito concentrado.
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Castas? É difícil de dizer, são muitas. Se calhar mais do que aquelas que o produtor cita. Vinhas que têm as castas misturadas. Antigamente era assim em Portugal, cultivavam-se as diferentes variedades todas juntas e o lote estava feito. Facto curioso, a mediática e reputada Touriga Nacional ocupa apenas um lugarzinho no conjunto.

terça-feira, setembro 27, 2011

Homenagem aos romanos – Graco Branco 2009


O substantivo próprio Graco faz, só por si, viajar no tempo. Não é nome que se tenha hoje em dia ou, pelo menos, não é nome comum. No século II antes de Cristo, dois irmãos tribunos e oradores de nome Graco marcaram a cena política romana. O grande motor da sua intervenção ligava-se ao aproveitamento generalizado das terras conquistadas por parte da aristocracia romana.
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É esta ligação à agricultura e à presença romana na terra conquistada da Hispânia que dá o nome a um dos novos vinhos alentejanos. Os produtores assumem que querem honrar a presença latina na Herdade Sousa da Sé, situada a seis quilómetros de Évora.
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Não tão mediáticos quanto os romanos que dão nome ao seu vinho, estes vitivinicultores não são de todo anónimos. La-Salete Fernandes foi durante vários anos chefe de redacção e alma do Diário Económico. Jaime Antunes liderou os projectos do Semanário e Diário Económico, mas talvez seja mais conhecido pelas suas ligações ao Sport Lisboa e Benfica. Quem também não precisa de grandes apresentações é Paulo Laureano, provavelmente o mais mediático e ubíquo enólogo do Alentejo.
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Os novíssimos vitivinicultores estreiam-se com uma colheita de branco e outra de tinto. Mas aqui e agora o que conta é o claro. Respeita à colheita de 2009. A união das castas do lote é já um resultado certo: Antão Vaz e Arinto. A primeira é bastante comum em todo o Alentejo, mas marca presença também na região de Lisboa. A segunda dispersa-se por todo o território nacional, sendo considerada uma das melhores variedades do país. Tanto uma como outra complementam-se, embora promovam um sabor e aroma tropicais.

segunda-feira, setembro 26, 2011

Uma estória de dois vinhos de 2007 – CARM Tinto


Há coisas assim. O que estava agendado era o CARM Grande Reserva Tinto de 2007. Mas a poderosa Wine Spectator (conhecida no métier por Wine Speculator, tal é a sua influência) trocou as voltas. É que na sua última edição, dedicada aos 100 melhores vinhos do mundo, colocou em nono lugar o CARM Tinto Reserva de 2007.
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Os lotes dos CARM Tinto Reserva e Grande Reserva de 2007 fizeram-se com as mesmas castas tradicionais do Douro: Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz (que a Sul se designa por Aragonês). As percentagens de cada é que variaram. O Grande Reserva tem mais Touriga Nacional (85%) e menos de Tinta Roriz (5%). O Reserva fez-se com 50% de Touriga Nacional, sendo a parte restante dividida irmãmente. Diferentes foram também as soluções enológicas. São vinhos diferentes, embora em caracterização genérica se possa pensar que são parecidos.
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O Reserva tem tido um preço cordato, de gama média. A ver se a taluda não dá a volta ao produtor e comerciantes e coloca nos píncaros os dígitos em euros.
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Mas vale explicar um pouco o que é a CARM, acrónimo de Casa Agrícola Reboredo Madeira. É uma estrutura familiar situada em Almendra, Foz Côa. Família de lavradores, com registo desde o século XVII, dedica-se também a outras culturas tradicionais e está a alargar a oferta aos produtos gourmet (pasta de azeitonas, pasta de tomate seco, pimentos recheados com queijo ou com atum, corações de alcachofras, azeitonas com e sem caroço).
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Nas suas diferentes quintas há olivais velhos, que só podem ser rentáveis quando o resultado final é de grande qualidade, e pode, por isso, aumentar o preço. As cultivares, típicas do Alto Douro, dão origem a três azeites de lote e a dois de uma só quinta.
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No vinho, o futuro passa pela compra e venda de quintas. A prioridade vai para propriedades mais elevadas e voltadas a Norte, que permitem vinhos mais frescos. É que o aquecimento global também se sente no Douro.

domingo, setembro 25, 2011

Vinho da terra xistosa – Maritávora Tinto Reserva 2007


O Douro da Quinta de Maritávora é diferente daquele dos bilhetes postais, da natureza montanhosa e arranjadinha pelos homens que, durante gerações, as foram torneando e domesticando para o cultivo da vinha. O Douro, por ali, é outro.
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A quinta situa-se no Douro Superior, terra muito quente de Verão e muito fria de Inverno. A paisagem lembra mais Trás-os-Montes do que a do postal vinhateiro. Fica na simpática e pequena vila de Freixo de Espada-à-Cinta, que está a caminho de coisa nenhuma… ou de coisa alguma de importância visível no mapa. Diz o vitivinicultor, Manuel Gomes Mota, que ninguém vai ao engano até Freixo. Quem lá vai, vai mesmo para lá. Não está nas rotas principais, aponta para nenhures.
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Freixo está numa natureza diferente, muito próxima do Parque Natural do Douro Internacional, onde voam os abutres negros do Egipto e as azinheiras se penduram nos penhascos abruptos, de tal forma que na região lhe chamam carrascos. Mas a vila é mais calma aos olhos.
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Apesar do seu nome que aponta a uma família da mais elevada nobreza portuguesa, que ganhou fama em massacre político, a Quinta de Maritávora não é imponente. Terá sido uma propriedade menor da família Távora, que não muito longe tinha outros bens. Sabe-se que foi comprada por Dona Maria de Lencastre, mulher do primeiro marquês de Távora. Pouco mais se sabe até ao século XIX.
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Em 1870, a quinta foi comprada pelo lavrador abastado José Junqueiro Júnior, pai do poeta Abílio Guerra Junqueiro. Desde então que se encontra na mesma família, que, por vias naturais da assumpção do nome dos maridos por parte das mulheres, passou para Sarmento Rodrigues e Gomes Mota.
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Nos últimos anos, o Vinho do Douro ganhou moda. E para tal muito contribuíram vários vinhos do Douro Superior. Não sendo um grande produtor, a Maritávora deu e dá o seu contributo. O enólogo é um dos mais reconhecidos e aplaudidos da região e do país, Jorge Serôdio Borges.
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Os grandes vinhos fazem-se em lugares únicos, com fruta muito boa e obrigatoriamente com mão sábia. Além do enólogo reputado e da qualidade das uvas, a Maritávora tem um solo que é de se ver. Pedregoso como muito poucos, é uma alegria de calhaus de xisto. Não parece ser importante, mas até confere propriedades apreciáveis aos néctares.

sábado, setembro 24, 2011

Da alta nobreza – Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria 2007


Portugal tem destas coisas; uma variedade grande de paisagem num pequeno rectângulo de pouco mais de 89.000 quilómetros quadrados, não contando com as regiões autónomas. É válido para os sotaques, para modos e costumes, para cultivares, florestas e solos.
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Assim também é Beira. O solo do local donde vem este tinto está encravado entre as denominações de origem Dão e Bairrada. Que é como quem diz, um pedaço de xisto entre o granito e o barro.
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O primeiro Quinta de Foz de Arouce apareceu em 1987… mentira! Esse foi quando o primeiro da marca debutou no mercado. Na quinta há registo da produção vinícola desde o século XIII. O projecto actual iniciou-se na década de 80, com a herança da propriedade por parte de João Filipe Osório, que, entre outros títulos, é conde de Foz de Arouce, de que é terceiro titular.
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O proprietário percebeu o potencial das vinhas e avançou. Ao seu lado teve o genro, João Portugal Ramos, que, nos anos 80 e 90, foi um dos principais responsáveis pela evolução qualitativa dos néctares portugueses. Foi uma espécie de “driving wine maker”, em analogia ao omnipresente Michel Rolland, conhecido pelo “flying wine maker”. As consultorias eram tantas, que Portugal Ramos tornou-se quase sinónimo de enólogo. Sem dúvida é que divulgou e mediatizou o substantivo. João Perry Vidal é o actual enólogo residente, embora enquadrado na equipa do técnico original.
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Mas o século XIII não é a única referência ao vinho desta quinta. Durante as lutas da Restauração, no século XVII, um ilustre Furtado de Mesquita, antepassado do actual conde, deu brado pela sua bravura. O militar apostou vinho da Quinta de Foz de Arouce como conseguiria roubar o estandarte aos espanhóis, que, perto de Elvas, estavam aquartelados.
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Apresentou-se ao inimigo e brindou-o com um espectáculo equestre. Pediu emprestado o estandarte para adereço. Tantas fez e voltas deu que… e lá se apressou a galope rumo aos portugueses.
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Os inimigos mal perceberam o golpe cavalgaram atrás de si. Aproximando-se do forte com a bandeira, os portugueses julgaram tratar-se dum ataque. Fecharam portões da fortaleza de Elvas, deixando um dos seus à mercê. Pinto Mesquita terá então atirado, para dentro das muralhas, o estandarte, bradando: “morra o homem, fique a fama”.
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De brado e nobreza são também os vinhos desta quinta beirã, reconhecidos pela sua elegância. Em 2003 surgiu o primeiro Vinhas Velhas de Santa Maria, uma referência só de anos excepcionais. Além do primeiro, nasceram já o 2005 e o 2007. Promete longa vida, como a fama do Furtado de Mesquita.

sexta-feira, setembro 23, 2011

Grande Reserva


















Já está à venda.

Um Colares especial de corrida – Monte Cascas Colares Branco

Este vinho não é barato. Reconheço que pagar quase 34 euros por uma garrafa custa. Mas, bolas, há momentos especiais. Vem aí o Natal e bem que pode ir parar ao sapatinho.
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Não pode ser barato. Não há forma de poder ser, pelas condições em que crescem as uvas. As vinhas são trabalhosas e implicam andar curvado. A mão-de-obra é escassa e cara. A quantidade é mínima…
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Dividida em chão rijo e chão de areia, a região de Colares o que tem de especial são as raízes no solo arenoso. As vides não são enxertadas em videiras americanas, porque ali a filoxera não entrou. Uma relíquia. As uveiras estão rasteiras, com pequenos suportes de cana para evitar que as uvas torrem no contacto com a areia. Macieiras, também elas rasas, partilham o espaço.
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Estão em pequenas parcelas, quintalinhos separados por canas.
A região é das mais pequenas do mundo, com cerca de 20 hectares, e está longe do fulgor do princípio do século XX, em que abrangia mil hectares.
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A proximidade do mar trouxe turistas, que ali estabeleceram as suas residências de veraneio. A pressão imobiliária comeu as vinhas. Os esforços dos produtores chocam sempre nesta realidade. Mas além dos carolas que se mantém firmes na tradição, também há aficionados mais recentes. Há uns anos, a Fundação Oriente investiu na maior vinha da região, trazendo-lhe sangue novo. Surgiu, há coisa de dois anos, um novo micro projecto.
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Designa-se por Monte Cascas e é formado por dois jovens enólogos (Hélder Cunha e Frederico Gomes), que no seu currículo têm a passagem pela poderosa Napa Valley (EUA). Fazem vinhos em diferentes regiões, sempre com o mesmo espírito de inovação e de qualidade.
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Enquanto o primeiro tinto (100% casta Ramisco) ainda estagia, por imposição legal, está no mercado o branco, referente à vindima de 2008, totalmente conseguido com Malvasia de Colares, que, a par do Ramisco, é uma variedade étnica única do lugar.

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Os jovens enólogos não têm vinha própria, compram uvas a pequenos agricultores. Só fizeram 634 garrafas. Na gíria chama-se vinho de garagem… no caso é mais vinho de alpendre.

quinta-feira, setembro 22, 2011

Cadão Reserva Tinto 2005

É um vinho fácil, que convida a conversa despreocupada enquanto se manja uma boa carne grelhada. Notas de fruta do bosque e algum chocolate. Tásse!
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Origem: Douro
Produtor: Mateus & Sequeira Vinhos
Nota: 5,5/10

Darei muito por ele – Lagar de Darei Tinto Grande Escolha 2004

Há já uns tempos que José Manuel Ruivo, empresário do ramo imobiliário, pensava num retiro bucólico. A ideia foi amadurecendo e várias voltas dadas foi pôr as preferências no Dão.
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A sua ideia era a de ter uma pequena propriedade onde pudesse descansar e fazer um pouco de vinho. Coisa de poucos hectares. No terreno tinha obviamente batedores, que lhe iam dando conta dos achados. Um dia, numa das suas deslocações à região, o agente imobiliário falou-lhe com entusiasmo numa propriedade, no concelho de Mangualde, que era tal e qual o que José Manuel Ruivo pretendia… ou quase. É que era substancialmente mais vasta: 150 hectares. Pois que nem pensar!
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De recusa em recusa até à disponibilidade, a contra gosto, em ir ver o terreno. Tal como lhe prometera o agente, foi amor à primeira vista. Em 1997, a Quinta de Darei foi adquirida. Hoje conta com orgulho a estória da sua recusa em ver a propriedade.
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Nesse mesmo ano plantou-se uma vinha. Castas da região, pois já se vê. A última parcela de vinha foi cultivada em 2005 e a opção continuou a ser castas regionais, visto pretender apenas vinhos DOC (denominação de origem controlada) Dão.
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A opção deste produtor é também algo insólita para os dias de hoje, em que as pressões financeiras empurram prematuramente para o mercado alguns vinhos. Neste caso não. A colheita é de 2004, já estagiou e está pronta a dar muitas alegrias a quem o beber. Mas, como bom e tradicional Dão, está também preparado para aguentar mais uns tempos em garrafeira. É vibrante e está um pouco fora de moda. Ainda bem que se fazem vinhos assim, desalinhados.
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No total, as vides nem ocupam muita área, apenas seis hectares, dos quais 4,8 de castas tintas. O olival tem quatro hectares, todo da variedade galega, variedade de azeite adocicado e bem presente em quase o território nacional. O restante espaço dá liberdade a uma manada de vacas arouquesas e a rebanhos de cabras serranas jarmelistas e ovelhas bordalesas de Serra da Estrela. Em cogitação está a produção de Queijo da Serra… apetece mesmo com um copo.

quarta-feira, setembro 21, 2011

Bétula 2010

Bom dia! Sempre que escrevo sobre o Bétula lamento que seja um vinho de casta internacional feito no Douro. Reconheço a xenofobia. O que importa, afinal de contas, é a qualidade do vinho e do prazer que dá.
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Complexos e macaquinhos da (minha) cabeça à parte, os Bétula têm primado por uma grande regularidade, quer de qualidade, quer de perfil. Todavia, neste notei-lhe um certo e mínimo redesenhar. Seja lá o que isso for, os anos são diferentes e os vinhos (os bons) querem-se diferentes.
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Embora embirrento com algum cosmopolitismo no Douro, declaro que gosto da casta viognier. Da sauvignon blanc nem tanto, mas uma casta é uma casta, um vinho é um vinho, bom é bom e etecetera e tal.
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De todos os Bétula que já bebi, este foi o que me deu mais satisfação. Adorei um vento suave de salsa quando abri a garrafa. Como um namoro insinuado, o aroma da erva escondeu-se um pouco atrás de maçã verde e algum pêssego. Na boca, mineralidade e uma sensualidade delicada, acidez feliz e convidativa para a mesa.
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Origem: Regional Duriense
Produtor: Quinta do Torgal
Nota: 7,5/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

O meu hobby é beber vinho – Hobby Tinto 2007

Hobby, diz o dicionário que é uma actividade desempenhada em momentos de lazer, um passatempo. Quem tem um hobby pratica-o por paixão. O problema está no significado que tem esta segunda palavra. É que paixão é sofrimento.
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É um sentimento doloroso, que pode fazer perder a capacidade de raciocínio, pelo menos o lógico. Mas que tem esse significado a ver com o que hoje usamos? Dizemos que estamos apaixonados por alguém e vem-nos ao rosto a iluminação dos olhos e um sorriso. Sim, há as palpitações, o nervosinho, a obsessão de estar com quem se gosta. Contudo, daí a chamar-se paixão, a do sofrimento, ao tempo das borboletas na barriga já parece excessivo. Já o Camões dizia que o amor era fogo que arde sem se ver, que é contentamento descontente.
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Por mim, há frémitos por outras coisas que também podem iludir os significados primeiros das palavras que usamos no dia-a-dia. Digo eu e dirão muitas mais pessoas. Tudo isto para introduzir o primeiro vinho da revista. Um projecto novo, estreado há poucos meses, pela mão dos enólogos Pedro Pinhão e Diogo Campilho.
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Os dois jovens enólogos, que trabalham na Quinta da Lagoalva de Cima, avançaram, por conta própria, para um projecto de criação, que foge à lógica das produções das empresas. É claro que não pretendem perder dinheiro, mas querem fazer vinho como forma de arte, como acto criativo. Por paixão.
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Dizem: «Quando não estamos a fazer vinho, estamos a bebê-lo». A frase traduz o espírito. Se isto não é paixão, que me definam, com melhor palavra, o que é. Depois juntam outra máxima para animar o apetite: «saborear um tinto no fim da noite é como se tivesse anjos a cantar nas tuas papilas gustativas». Garantem que querem «levar a todos os portugueses a experiência de beber um vinho que não só os deixa felizes como os vai fazer cantar como ninguém»!
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Por mim conseguem-no com este tinto regional alentejano, colheita de 2007. Para o ano, prometem, haverá mais. Começam os dias frescos e já apetece abrir uma garrafa de tinto.

terça-feira, setembro 20, 2011

Nova secção no blogue

A partir de amanhã irei publicar diariamente textos que escrevi e publiquei na imprensa. Os primeiros serão os escritos para a revista Index, do jornal I. No futuro, outras prosas poderão ser aqui colocadas.

Bucellas & Collares Edição do Centenário 2007 - Revisitado

Volto à carga com um belíssimo vinho que já aqui postei: a edição comemorativa do centenário das regiões de Bucelas e de Colares. E regresso, porque este vinho é mesmo um grande vinho e merece um aplauso de pé durante uns minutos.
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Há uns dias, andava a passear por Sintra e parei à porta da Adega Regional de Colares… nada de especial, apenas dar uma vista de olhos. No balcão, um mostruário dos vinhos da casa e, entre eles, este, concretizado a meias com a Companhia das Quintas, na sua Quinta da Romeira.
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Não é um vinho barato… não tem de ser… até acho bem. É uma edição limitada, um número excepcional, sem grande hipótese de repetição até ao próximo centenário, devido às complicações (correctas) da entidade certificadora.
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Embora seja um número fora do baralho, devido ao problema dos topónimos do rótulo, gostaria que a Adega Regional de Colares e a Companhia das Quintas voltassem a trabalhar juntas em lotes desta natureza. Poderiam chamar-lhe «C+B» ou «B+C» ou «Centenário + 1», sei lá, uma cena assim desse género. Nem que fosse só em anos de excepção.
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Quanto ao vinho… está fabulástico. Grande! Complexo, com notas (boas) de evolução, com finura e elegância… ainda com algo da sua juventude a mostrar-se. Um primor! É comprar enquanto há… quem me dera uns euros no bolso!...

Terra a Terra Reserva Branco 2010

Ora aqui está um belíssimo branco… fez certamente boa companhia às mesas neste Verão, que já se vai indo, mas com temperaturas de Agosto.
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É um vinho com belíssima acidez, finura de trato, muito convidativo para a mesa. Não sendo um vinho complicado, não é óbvio… embora uma coisa e outra não sejam sinónimo nem de defeito nem de qualidade. O importante é que o vinho dê prazer, e este dá-o.
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As castas são rainhas da região: gouveio, viosinho e rabigato.
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Origem: Douro
Produtor: Quanta Terra
Nota: 6/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.

segunda-feira, setembro 12, 2011

Meandro do Vale Meão 2009

Seguríssimo. Muito Douro. Amigalhaço. Gosto da fruta preta e fruta vermelha maduras, algumas notas de terra, uma finura de madeira verde, diria algo seivoso. Madeira muito bem integrada. Complexidade interessante.
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Tem a virtude, para o meu gosto, de ter abundante percentagem de touriga franca (30%)… leva ainda touriga nacional (35%), tinta roriz (25%), tinta barroca (5%) e sousão (5%).
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Origem: Douro
Produtor: Quinta do Vale Meão
Nota: 7,5/10

domingo, setembro 11, 2011

Cardo Real Branco 2005


Uma agradável surpresa. Boa malha. Com mineral e fruta. Belo beirão. Não é já um rapazola e mantém-se em boa forma.
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Origem: Regional Beiras
Produtor: Quinta do Encontro
Nota: 5,5/10

sábado, setembro 10, 2011

Prova Régia Arinto 2010


Este é outro dos meus amigos. Ano após ano, faz-me companhia, descomplica-me os dias e não pesa na conta do supermercado.
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Frutinha, da boa… e variada. Pêssego, manga, pêra… feliz!
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Origem: Bucelas
Produtor: Companhia das Quintas
Nota: 6/10

sexta-feira, setembro 09, 2011

Alvarinho Deu la deu 2010

Para os obcecados pela relação entre a qualidade e o preço, tomem lá um para o quadro de honra. É fiável e reconhecido, diria que já nem é novidade esta posta de texto.
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Boa acidez, que desenjoa a fruta tropical e o pêssego. Belo para o Verão e desafiante para outros dias.
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Origem: Vinho Verde, sub-região de Monção e Melgaço
Produtor: Adega Cooperativa Regional de Monção
Nota: 6/10

quinta-feira, setembro 08, 2011

Quinta de Cidrô Rosé 2006


Vivendo e aprendendo. Por descuido intelectual ou mesmo por preguiça mental, nunca a luz da sabedoria se tinha acendido acerca do complicado problema da longevidade dos rosados.
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Sábio e experiente Arlindo Santos, da Garrafeira de Campo de Ourique, sacou uma garrafa de 2006 e sacudiu-me os neurónios. Disse, e faz todo o sentido, que não há qualquer razão objectiva para que um rosado não viva tantos anos como um branco. Isto, obviamente, se tiver qualidade e classe para tanto.
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Calei-me e fui dizendo que sim com a cabeça, como quem se culpabiliza por pensamentos não nascidos e até, assumo, algum preconceito.
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Gostei tanto dele que já o bebi em repetição. Que bela acidez, que desenjoo de sabor e aromas. Dá baile a rosados xaropados, pegajosos de morango e fruta do bosque acabadinhos de meter nas prateleiras. Catita! O senhor Santos rula!
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Origem: Regional Duriense
Produtor: Real Companhia Velha
Nota: 6/10

quarta-feira, setembro 07, 2011

Tormes 2009

Um bocadinho cansado de Vinho Verde, talvez injustamente, este branco agradou-me. Foi com uma pratada de massa, que não era bem carbonara, mas aparentada.
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Sem excessiva acidez, sem modernismos adocicados. Cumpre o que se espera dele.
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Origem: Vinho Verde, sub-região de Baião
Produtor: Fundação Eça de Queiroz
Nota: 5/10

terça-feira, setembro 06, 2011

Adega de Pegões Colheita Seleccionada Branco 2010


É a crise! Até a amiga enófila e tagarela, que se esticava nos vinhos, anda muito poupadinha. Faz bem, certamente, porque nestes tempos difíceis, em que não se prevê com exactidão o amanhã, mais vale travar as mãos quando estas se vão tirar dos bolsos.
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Mais um vinho de grande fiabilidade. Ali em Pegões o mote é fazer bem e barato. Tem o Sol das areias, as delícias do verdelho e a frescura do arinto. Aprovado!
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões
Nota: 5/10

segunda-feira, setembro 05, 2011

Vale da Judia Branco Moscatel 2010


Ando mesmo contentinho. Esta vinho nunca me deixou ficar mal e é amigo da carteira. Os amigos, mesmo os peneirentos, que afirmam não gostar de moscatel, tragam-no com agrado. Trigo limpo, farinha Amparo.
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Este está um primor em tangerina e casca de laranja, com ramalhete floral.
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Origem: Regional Península de Setúbal
Produtor: Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões
Nota: 6/10

domingo, setembro 04, 2011

Quinta do Gradil Branco Reserva 2009


Um vinho muito agradável, com frescura e gordura. Madeira presente, não se revelando excessiva.
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O lote é uma dupla de sucesso: chardonnay e arinto.
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Coisas a criticar, ambas referentes ao embrulho: difícil leitura e visibilidade do ano de colheita e peso da garrafa… começa a ser tempo de maior preocupação ambiental, a pegada de carbono desta garrafa podia ser menor…
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Origem: Regional Lisboa
Produtor: Quinta do Gradil
Nota: 5,5/10

sábado, setembro 03, 2011

Quanta Terra Grande Reserva 2008

Gosto muito dos vinhos tintos do Douro, há que reconhecer com frontalidade. Claro que um mau vinho é um mau vinho e um bom vinho é um bom vinho, mais vale um bom XYZ do que um mau Douro… vira milho e vai daí… etecetera.
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Pois, este é mesmo Douro e acrescento-lhe que é um bom Douro, um douro no muito bom sentido. Tem lá tudo o que se pede a um tinto da região e mais uma frescura e leveza que nem sempre aparecem por aqueles lado.
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Rebeubeubeu, pardais ao ninho, este caiu-me muito bem. Comi-o com a amiga Isaura e o João. O tipo surpreendeu-se com a frescura.
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Madeira presente, mas bem integrada, as castas típicas da região (touriga nacional, touriga franca, tinta barroca e sousão) a dançarem no palato, com harmonia complexa.
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Ganda vinho! Ganda Celso!
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Origem: Douro
Produtor: Quanta Terra
Nota: 8/10
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Nota: Este vinho foi enviado para prova pelo produtor.