terça-feira, outubro 11, 2011

O vinho do índio. Hugh! – Cavalo Maluco 2007

Crazy Horse (1840 – 1877), em inglês. Em português, Cavalo Maluco. Na realidade é Tȟašúŋke Witkó, em grafia latina. Foi um chefe índio americano dos Oglala Lakota, do povo Sioux, que levantou o seu povo em armas contra os Estados Unidos. Adiante, este guerreiro era o herói de infância de José Mota Capitão, que, diz, nunca gostou de ser da maralha e prefere desalinhar-se: se os miúdos queria ser cowboys, ele era o índio. Maluco também lhe chamaram quando plantou a vinha na Herdade do Portocarro, junto a Alcácer do Sal. Ali fazia-se cortiça, pinho e arroz e criavam-se vacas.
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Por esse desalinho quis fazer um vinho diferente dos (muitos) que se fazem pelas Terras do Sado e Alentejo. «Não é um vinho redondinho», garante. Contratou um enólogo de renome (Paulo Laureano), mas é ele quem monta o esqueleto. Não pretende nem fruta nem compotas, mas notas minerais e terrosas, especiarias e frutos pretos. É um vinho de produtor. Quer acidez, depois taninos e só no final se preocupa com o álcool. Quer longevidade e coloca o pico deste vinho em 2017, mas prevê vida além dessa data.
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A topografia, a geografia e a vizinhança ajudam-no no objectivo. Terra plana que sente o mar e junto a arrozais (também é orizicultor). Pela manhã há neblina e à noite o termómetro vem por aí abaixo, chegando a perder 20 graus face ao dia.
Mota Capitão tem agora a vinha em modo de produção biológico, nada com químicos de síntese, para bicharocos, fungos ou ervas daninhas. Contudo, pensa já no passo seguinte, na biodinâmica, um sistema «alternativo», com adopção de calendário lunar, atenção aos signos do zodíaco e aos quatro elementos da natureza.
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Para este produtor do Alentejo (que a burocracia diz que não é), a touriga franca é a melhor casta do país, mas que por ser caprichosa, ou impertinente, se recusa a viver num sítio qualquer. O Cavalo Maluco vive em função desta variedade duriense.
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A touriga franca dá estrutura, os taninos suaves e sedosos, o toque de classe e elegância. A touriga nacional confere as notas florais e a pinot noir a acidez. É fácil de se gostar, embora não sendo óbvio. Bem complexo, evolui no copo durante toda uma refeição. Se no início se mostra um pouco austero, o tempo dá-lhe festa. E no fim até relincha.

1 comentário:

Rita B. Maia disse...

O Cavalo Maluco nunca provei, mas já provei o Anima L7 que mostra, também, a vontade deste produtor em apresentar vinhos diferentes.O Anima L7, por um lado é um vinho distinto de todos os portugueses que já provei,e, por outro, apresenta muito pé, porque é um vinho que, deliberadamente, não foi filtrado...