quarta-feira, outubro 05, 2011

Alto piu piu piu de Azeitão – Periquita Superyor 2008


Há empresas e produtos que marcam os tempos. Os anos passam e elas ficam, acompanhando as épocas. A José Maria da Fonseca (JMF) é um desses casos. Fundada em 1834, é a mais antiga casa produtora de vinhos de mesa em Portugal. No mundo, são escassas as que resistem cem anos. Aqui apresenta-se o mais jovem membro da família Periquita, o Superyor.
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O homem que deu nome à casa nasceu em Nelas, em 1804. Formou-se em Coimbra e estabeleceu-se em Lisboa, negociando em tabacos no Cais do Sodré. Prosperou e diversificou os investimentos. Uma aposta foi a compra da Quinta de Periquita, em Azeitão. Lá plantou uma casta que trouxe do Ribatejo: a João Santarém.
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A adaptação e o sucesso da casta foram enormes. Alastrou e ganhou uma alcunha: periquita, em alusão à quinta. Durante muito tempo, até oficialmente, também se chamou assim. Até ao dia em que a JMF pôs os pés em tribunal para garantir que periquita só o seu vinho. Hoje, o nome corrente é castelão (que já teve acoplado «francês»). Voltando ao sucesso na região… os seus encepamentos chegaram quase aos 100%. Ultimamente tem havido plantações diferenciadas, mas, julga-se, que quase 80% ainda sejam desta estirpe.
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Em 2010 celebraram-se os 160 anos da marca Periquita. Todavia, o Superyor não é um evocativo. Há já muito tempo que na JMF se queria uma coroa. Calhou 2008 ser um ano excepcional e lá debutou na efeméride, diz Domingos Soares Franco, enólogo, vice-presidente da JMF e descendente (sexta geração) do fundador. O próximo só virá doutra vindima de excepção.
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Este topo de gama é, como não podia deixar de ser, um «castelão», com quase 93% do lote. O vinho estava com muita estrutura, «mas precisava que lhe puxassem as costas», afirma o enólogo. A prótese fez-se com cabernet sauvignon (5%). Para «dar um coice de boca, para ser mais comprido», adicionou-se a tinta Francisca (2,4%). Uvas de vinhas velhas, vindimadas à mão e esmagadas a pé, porque, quando se quer qualidade, as mãozinhas e os pezinhos ajudam muito.
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Os frutos foram prensados com 35% dos seus engaços, para extrair mais taninos, o que lhe prolonga a vida. Os pormenores, ou o luxo, não foram descuidados: passou 12 meses nas melhores barricas de carvalho francês da Seguin Moreau, uma das mais prestigiadas tanoarias do mundo.
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Evolui bem no copo. O que se começa por beber não é o mesmo que termina a refeição. É um tinto para se ir descobrindo. Tanto no prazo dum repasto como num horizonte mais distante. É vinho para viver, pelo menos, mais uns 15 anos.
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Domingos Soares Franco diz que lhe lembra as colheitas de 1966, 1967 e 1969, quando havia poucas marcas em Portugal e os Periquita ainda não eram vinhos de consumo massificado. Que venham mais 160 anos.

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