quinta-feira, junho 21, 2007

A madeira e o vinho - uma carta do Brasil

Nada obriga a um vinho a ir à madeira. Aliás, os avanços da investigação apuraram que a madeira pode ir ao vinho que os resultados são muito aproximados: os chamados chips ou aparas são há já bastante tempo utilizadas nos designados países do Novo Mundo (e também do Velho) e autorizadas desde cerca de meados de 2006 na União Europeia. Escreveu-me, para o email, um leitor brasileiro dizendo que no Chile está a ser utilizado pó de madeira (sachet). Não sei até que ponto esta informação é absoluta, sendo que, a avaliar pelas reticências mostradas face às aparas, duvido que esta prática venha proximamente a ser autorizada no espaço comunitário.
Mas se nada obriga um vinho a ter madeira, nada obriga a não ter. Por regra, os tintos estagiam com madeira e os brancos variam. O tipo de madeira, o seu uso e o tempo de estagio variam. É tudo uma questão de gosto, de estilo, de perfil: as opções são do enólogo. Depois, em última análise, do consumidor e do mercado. O mundo dos vinhos não está imune às modas, pelo que o consensual hoje pode amanhã não ser.
Escreveu-me esse leitor brasileiro queixando-se de que os vinhos chilenos andam demasiado carregados de madeira: «O Chile está abusando do carvalho em seus vinhos, parece que esta prática está chegando em Portugal. Meu limite para a madeira é pequeno, ou melhor, acho necessário, porém com limite».
Há madeira e madeira, e gostos e gostos. Tudo tem de estar em equilíbrio e harmonia. É aí que está a dificuldade, até porque equilíbrio e harmonia não são mensuráveis. Como no apelo havia uma referência a Portugal e para poder perceber melhor o ponto de vista do leitor, solicitei que me exemplificasse. A resposta veio. Posso assegurar que é um vinho de perfil internacional e duma casa séria e competente.
Contudo, isto não quer dizer que o leitor não tenha razão genérica no apelo que faz, e vinhos com excesso de madeira não serão bons vinhos. Há por cá vinhos abusados na madeira... Só para dar um exemplo: Uma certa vez aproximei o copo e a coisa tresandava a baunilha, parecia que lhe tinham deitado um aditivo, estava intragável.

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